quarta-feira, 8 de abril de 2015

Confissões do puerpério...

Cuidar de um recém nascido é muito intenso e demanda demais. Ainda mais para a maioria de nós que passa a vida toda idealizando a maternidade e o bebê e intensifica as expectativas na gravidez, lembrando dos lindos e rechonchudos bebês de propaganda da johnson. É um período onde os hormônios estão à flor da pele, onde há um desconforto pela falta do bebê no útero, pela nova forma corporal. É muito profundo, uma oportunidade dolorida de rever a sua criança ferida(pois todos têm as suas feridas, em proporções diferentes, claro), de olhar para dentro e se permitir viver essas emoções. Intensas, avassaladoras... Por isso é importante apoio constante, privacidade, carinho ... E mergulho no desconhecido! Fiz um relato sobre o meu puerpério tentando mostrar exatamente como me senti, e tenho um carinho especial por esse texto, pois tive um baita confronto de idealização e bebê real. Fui arrastada por essa enxurrada de sentimentos ... E sobrevivi, mais forte e mais consciente de mim. Me olhei, me vi como eu sou, me acolhi, curei feridas, amadureci. E agora te convido a ler o meu relato: Para introduzir o meu relato de puerperio, preciso dizer que fui uma gestante bem informada, passei a gestação inteira lendo, tanto evidências científicas quanto relatos de outras mulheres que pariram, lendo discussões em grupos de apoio ao parto natural. Eu fiz todo um preparo para o meu parto me preparei, preparei a minha mãe, meu marido. E mais: tive apoio, acompanhantes, doula, médico humanizado, escolhi o hospital, e tive êxito ao final do processo: pari minha filha da maneira mais natural possível, com apenas uma intervenção indesejada da pediatra nela. A minha doula, em um de nossos encontros, me disse que achava que eu ia conseguir e justificou dizendo que em nenhum momento eu tinha inseguranças do tipo"será que eu vou conseguir". Eu tinha certeza que iria, durante o meu trabalho de parto, em nenhum momento me passou pela cabeça anestesia ou cesariana. Bom, dito isso, enfim nasceu a Alice! Eu me senti muito feliz, mas não me vieram lágrimas aos olhos, como imaginei que seria... E a quantidade de lacerações e pontos no meu períneo também não estavam nos planos. Após o nascimento, não tive como descansar, eu fiquei muito agitada, empolgada, não tinha sono, enquanto isso minha filha dormia tranquila ... E assim foi o dia inteiro. Eu me sentia bem. O primeiro baque veio a noite, quando a Alice acordou e eu queria/precisava dormir. Eu entrei em trabalho de parto as 2 da manhã, então já estava praticamente sem dormir desde a noite anterior. Mas ela sentiu fome e passou a noite mamando o colostro, e eu acordada, aprendendo a amamentar e sonolenta. Uma das coisas mais difíceis da madrugada são os arrotos, depois que seu bebê mama, ele ainda precisa arrotar e é um processo demorado, aliás uma eternidade pra quem está com sono. Tudo bem, no dia seguinte fomos pra casa, eu ainda me sentia bem, feliz saindo da maternidade com meu marido, minha mãe e minha bebê recém nascida e, nos corredores do hospital, todos olhando curiosos e encantados, pois o nascimento de um bebê é mesmo fascinante. Pois bem, cheguei em casa, já tinha concordado com a visita de um casal de amigos para conhecer a Alice. Mas como eu estava exausta, não consegui dar atenção a eles. Estava na casa da minha mãe em Brasília e dentro de 3 dias o meu marido teria que voltar para Cacoal, e eu queria tempo para curtir esse momento com ele e ajuda com a bebê, afinal eu ainda não tinha dormido. Com a eminência do meu marido ir embora, começou meu baby blues, talvez eu já tivesse lido por alto a respeito, mas sinceramente eu não havia me preparado pra isso(ao contrário do parto, como fiz questão de mostrar no início do texto), nunca imaginei que aconteceria comigo, ainda mais diante do meu sonho de ser mãe e do parto perfeito que eu tive! Me tranquei no quarto e comecei a chorar. Você não sabe ao certo porque está chorando, chorei porque não queria que meu marido fosse embora, porque queria dormir, chorei porque pesou e doeu a responsabilidade de ser mãe (deixar de ser só filha), por medo de não dar conta, por cansaço, chorei por não estar me sentindo a mulher mais feliz e realizada do mundo, pelo contrário, estava me sentindo triste, chorei pois cuidar dos pontos no períneo é doloroso e quando eu me tocava, tinha a impressão que nunca mais minha vagina seria como antes. E pra piorar, alguns pontos abriram e eu tive de refazê-los, o que me rendeu uma fibrose. Chorei com a dor de amamentar e também frustrada por não ter conseguido amamentar exclusivamente meu leite. Chorei por não ter chorado quando vi seu rostinho pela primeira vez. Chorei por não conseguir acalma-la ninando e por minha mãe conseguir(o que havia de errado comigo?). Chorei culpada por estar triste e saber que minha filha era diretamente influenciada pelas minhas emoções, pensei não estar me vinculando a ela como deveria, como acontecia com TODAS as mães desde o primeiro momento. Eu me sentia sozinha nesse mar de tristeza, a única mãe no mundo que se sentia desse jeito, uma pessoa fria por não conseguir viver plenamente a experiência da maternidade. Conversava com a minha mãe, esperando que me dissesse que também passou por isso, mas não, ela não passou (ou não lembra). Um parêntese para dizer que recebi carinhosos abraços da minha mãe e fui muito acolhida por ela nesse momento frágil. E aí vem aquelas questões do tipo: por quê me sinto tão triste se tenho amor e ajuda da minha família e marido? Se minha filha nasceu tão saudável e perfeita? Se o parto correu como eu queria? Se minha filha foi planejada e desejada? Se eu estou realizando o sonho de ser mãe? Em muitos momentos pensei em mães solteiras, gravidez não planejada, em mulheres que não têm ajuda de ninguém no resguardo, em mães que têm seus bebês na UTI... Como deve ser duro para elas! Compreendi também as mulheres que não querem ter filhos, pois tal escolha requer muita renúncia, dedicação e nem todas estão dispostas a isso. E é preciso ser honesta consigo e pensar sobre o assunto. Hoje vejo que o ideal seria que filho fosse uma escolha consciente, viesse em um lar estruturado, com pais que se amam. E admiro, respeito e acolho as guerreiras que tiveram suas histórias diferentes dessa estrutura. Comecei a me informar sobre o baby blues, conversei com a doula, com amigas que são mães, e vi que na verdade eu deveria me permitir viver aquelas emoções, mas quem está ao seu redor não entende, não quer te ver daquele jeito. E no fundo nem eu aceitava estar me sentindo triste. Então eu tentava segurar a barra. Quando meu marido foi embora, ficou o vazio... Lembro de um dia estar chorando no banheiro e conversar com ele pela internet e dizer que eu nunca havia me sentido daquele jeito em toda a minha vida. Acho que se eu quisesse, seria capaz de chorar horas a fio, quiçá dias... um choro angustiado. Eu sentia vontade de chorar a maior parte dos meus dias. Eu rezava, as vezes olhava a imagem de Nossa Senhora com Jesus no colo, no quarto da minha mãe e me vinha mais vontade de chorar. Quando fui avaliada pelo meu obstetra, que diagnosticou e medicou uma hemorróida muito dolorida por causa do parto, minha mãe o contou o tanto que eu estava chorando e triste, preocupando-se com depressão pós parto. Mas tanto ele como o pediatra em que levamos a Alice disse que eu não tinha depressão, que aquilo tudo era o turbilhão hormonal do pós parto. Chorei de alegria e emoção também ao olhar para a minha filha, serena, linda, dormindo. Eu não era indiferente a ela, me preocupava, a amava profundamente, mas achava que estava tendo dificuldade em me vincular pela fantasia que criei da maternidade. Eu precisei tomar medicamento, uma linha quase homeopática para começar a reagir e me sentir melhor. Foram uns 20 dias de muita angústia... As coisas começaram a melhorar quando eu voltei para o meu lar, para meu marido. Ainda assim, a maternidade, crua, é cheia de noites mal dormidas, dores nos braços e costas, inseguranças, escolhas, doação, palpites, culpas, renúncias. Penso ser uma experiência diferente e única para cada mulher e a cada filho. É intenso, pois te leva a sua essência feminina, aos instintos, te leva a reviver as suas dores mais profundas, aquelas que você fez questão de esquecer. Mas é também um convite ao amadurecimento, às mudanças positivas, ao auto conhecimento, ao amor incondicional, altruísta que é reforçado a cada dia! Recompensado com lindos sorrisos banguelas, amorosos olhares, um cheirinho único e delicioso, com alegria e vibração a cada pequena conquista e evolução, quando seu filho(a) dia-a-dia reconhece-a e gradativamente começa a interagir com você. Você é sua referência e seu exemplo, o que te faz batalhar para ser sempre uma pessoa melhor. Aquele serzinho tão lindo, doce e frágil, que te ama e é faminto pelo seu amor! É gratificante quando apenas seu colo e seu amor "resolvem", perceber que você é seu porto seguro, é seu melhor lugar no mundo, o melhor carinho, o melhor colo, a melhor voz, o melhor cheiro... E o melhor amor! E você ama-o com toda a sua força, faz e faria qualquer coisa para protege-lo e vê-lo feliz! Sua vida toma outra forma e fica mais completa. E, de repente, não consegue mais se imaginar sem ele(a)... A tristeza passa, os hormônios vão se equilibrando, nem tudo são flores, mas todos os dias agradeço a Deus pelo presente Alice, pela família maravilhosa que tenho, tanto a que eu nasci quanto a que estou constituindo! Sou grata por ela ter me escolhido e me confiado como sua mãe! E saiba, filha, não existe ninguém que eu ame mais e que a ame mais! C

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